gigante
somente Violet percebia o meu crescimento. cresci infinitamente e não sei o porquê, mas continuava com a mesma altura. quando acordava, olhava para o teto e conversava com a lagartixa companheira de mosquitadas. eu era bem maior que os mosquitos. e que a lagartixa. Violet sempre dizia que era bobagem, que eu não deveria me importar com coisas tão bobas como a altura, mas o fato é que eu sentia dores. ele crescia, eu tinha certeza. a cada sorriso, a cada mágoa, a cada raiva e gargalhada. ele se alimentava mais e mais. gordo como um rei momo. e triste como a quarta-feira de cinzas. Violet e eu detestamos o carnaval e sua incompreensível comemoração.
e o meu coração é tão incompreensível quanto. às vezes tenho a impressão que ele parou de crescer. está paralisado, imóvel, inerte há vários anos. não cresce. parece querer bater, mas é apenas impressão. ilusão. às vezes tristeza. e não dói.
não lembro o dia que meu coração congelou, mas sei quando ele destila aos poucos. as lágrimas não me enganam. nem os meus olhos. e eu sei que continuo com a mesma altura. mas não por dentro.
sou infinita, às vezes.