samedi, janvier 20, 2007

gigante


no dia que eu fiquei grande, percebi que continuava com a mesma altura. saí de casa no mesmo horário e pensava que as pessoas me olhariam diferente. mas isso nao aconteceu. a mesma indiferença de sempre pairava no ar, enquanto meus suspiros, mais sábios agora, deslizavam pela correnteza de meus pensamentos tristes. talvez meu coração não caiba todo dentro de mim, pensava. sim, porque ele é tão grande que às vezes o sinto pressionar todo o meu corpo. e dói. sempre achei que as lágrimas pudessem aliviar o coração, mas ele insiste em bater meio descompassado, meio fora de propósito, meio que contra o mundo.
somente Violet percebia o meu crescimento. cresci infinitamente e não sei o porquê, mas continuava com a mesma altura. quando acordava, olhava para o teto e conversava com a lagartixa companheira de mosquitadas. eu era bem maior que os mosquitos. e que a lagartixa. Violet sempre dizia que era bobagem, que eu não deveria me importar com coisas tão bobas como a altura, mas o fato é que eu sentia dores. ele crescia, eu tinha certeza. a cada sorriso, a cada mágoa, a cada raiva e gargalhada. ele se alimentava mais e mais. gordo como um rei momo. e triste como a quarta-feira de cinzas. Violet e eu detestamos o carnaval e sua incompreensível comemoração.
e o meu coração é tão incompreensível quanto. às vezes tenho a impressão que ele parou de crescer. está paralisado, imóvel, inerte há vários anos. não cresce. parece querer bater, mas é apenas impressão. ilusão. às vezes tristeza. e não dói.
não lembro o dia que meu coração congelou, mas sei quando ele destila aos poucos. as lágrimas não me enganam. nem os meus olhos. e eu sei que continuo com a mesma altura. mas não por dentro.
sou infinita, às vezes.

samedi, janvier 13, 2007


Violet tinha planos. seria feliz o ano inteiro. neste ano. no entanto, seu coração acordou apertado hoje. doía tanto em seu peito que só tinha vontade de chorar.
não pensou duas vezes: arrancou-o rapidamente e o deixou em cima da mesa da cozinha.
saiu de casa mais aliviada.

samedi, janvier 06, 2007

folga, preguiça e poucas palavras